quarta-feira, 27 de março de 2013

O Poeta.

Administrando a perda.

Sou a mãe do Leonardo, poeta criador deste blog.
Após sua morte, ao mexer nas suas coisas achei muitos manuscritos. Alguns já publicados aqui, outros não. Nos últimos dias ele vinha escrevendo até em post-its, qualquer coisa que estivesse à mão.
Ele queria muito e estava sempre tentando divulgar sua produção poética. Então, em sua homenagem vou administrar o blog divulgando os trabalhos inéditos, fotos e eventuais vídeos que possam interessar.
Quem tiver qualquer dessas coisas, relacionadas à poesia dele, e puder e quiser compartilhar, por favor, manda pra mim para que eu possa divulgar aqui.
Morre o poeta, jamais a poesia.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

*O Avesso das Coisas (Drummond) #4




>M

Machado de Assis
-A parte de Machado de Assis na personagem de Dom Casmurro é maior que a do próprio Dom Casmurro

Máscara
-A máscara ao desindividualizar a pessoa, individualiza o eu profundo

Masturbação
-A masturbação é uma forma econômica de praticar o sexo

Medo
-O medo une mais os homens do que a coragem
-Ninguém se lembra de erigir um monumento ao medo, principal responsável pela conservação da vida

Mestre
-Se o mestre não segue suas lições, por que haveremos de segui-lo?

Morte
-A morte leva em carro de ouro nossos amores defuntos
-Desde que o mundo é mundo, ninguém se convenceu ainda que morrer é obrigatório
-Surpreendemo-nos com a morte como se ela não fosse o único fenômeno absolutamente previsível
-O morto continua a viver no livro, na foto, no cassete, mas só quando nos lembramos de usá-los
-Não há vivos; há os que morreram e os que esperam vez
-O silêncio dos morto encerra terrível acusação aos vivos

Mulher
-Até de seus arrependimentos a mulher extrai novo encanto
-É próprio da mulher o sorriso que nada promete e permiti imaginar tudo
-De todas as mulheres de seu passado, o homem costuma fazer uma síntese que não se parece com nenhuma delas
-Todas as mulheres são iguais, mas cada uma é diferente da outra
-Não adianta a cor dos olhos desta mulher, se ela não olha para nós

Mundo
-O mundo é uma série de percepções que teimam em ser exatas e às vezes o conseguem
-Se o inferno existir esse mundo é o seu vestibular
-A cada indagação respondida o mundo fica menor e menos atraente
-As receitas para salvar o mundo são bem recebidas por um mundo que não pretende observá-las
-Difícil compreender como no vasto mundo falta espaço para os pequenos


domingo, 19 de agosto de 2012

*De verdade

Ao lado de um prato,
Já comido, meias sujas e
Esquecidas em cima da mesa.

No fundo de um pote de lata,
uma moeda pequena, num país
Onde não vale nada.

A geladeira que se abre
A todo momento para nada
E onde tudo permanece o mesmo.

No cibório, várias e várias
Hóstias para crentes mentirosos

-Isso sim é poesia!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

*Janela

A ponta do meu dedo
Está a descascar
E tenho medo
Que todo eu seja novo
Daqui a alguns dias

Mas qual me é
O problema de ser novo?
Perder tudo que tenho?
E que é tudo que tenho?
Talvez seja nada...

Em minha casa
Havia uma janela no teto.
Uma vidraça difícil de se limpar,
Porque era muito alta,
Mas eu sempre limpava bem.

Até que um dia
Uma pedra irrompeu por ela
E eu me cortei um pouco
Com os cacos
Que caíram no chão.

Foi ai que pude
Pegar aqueles belos cacos
E examiná-los de perto,
Com cuidado,
Um a um

Estavam ensebados,
Quase todos eles.
Então não repus a vidraça,
Nem procurei quem atirara
A simples pedra. Não importava.

Dali em diante
O sol, a lua, o vento e a chuva
Entravam quando queriam
Lugar nenhum melhor
Para vasos, que flores, ali, conceberam.

Espero que mais coisas
Me entrem pela janela
E me obriguem a mudar a sala,
Assim não me entedio
E não canso dos dias.

Pensando bem...
Espero terminar de descascar logo
Assim não entedio de mim
Afinal só o eu e o que vivi
Me faz parte, nada mais...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

*Aqui dentro é outro mundo

            É, eu fazia, de novo, todas aquelas aulas teóricas para tirar a carteira de motorista, de novo.
            E tinha esse professor que era bombeiro. E tinha essa ninfa do meu lado.
            Esse professor tinha uma cicatriz na ponta do nariz. Porra! Tanta gente por ai morrendo de medo de cicatrizes e esse cara com uma bem na ponta do nariz? Que sorte! Qual é a graça de não ter cicatrizes? Povo burro!
            Acontece que esse professor era sério. E eu tinha lá poucas cicatrizes, louváveis só pela dor que causaram no dia-a-dia. Mas aquela: na ponta do nariz, parecia que apontava bem pra minha cara! Como que denunciando minha pele lisa. Sem história. Que merda, bela merda. As histórias que eu tinha eram de poucas ou mais vergonhas. Tá bom, vá lá, tinha muita risada também. Tinha muita história boa.
            Eu tinha chegado lá com minhas pernas, mas sem mérito meu. Mas vá lá, dane-se, a culpa não é minha.
            E essa ninfa do meu lado nunca falava nada. Era uma voz que saia por uma fenda nas pedras. Que raiva…todo aquele pecadinho pra nada. Não tinha cicatrizes ou histórias pra contar. Bela merda! Mais um produto organicamente industrializado. Era como uma foto de um quadro de Dalí ou Picasso: não era arte.
            Eu passava a tarde inteira naquela sala. Entrava lá pelas 13h40min e saia às 18h50min. Ô dia ruim…
            A manhã é branca e a tarde é colorida. E tinha uma larga janela na sala da onde dava pra ver a tarde correr nos carros, no comércio, nas pessoas e no mundo lá fora. Eu adoro a tarde. O sol fazia pilhérias de mim. Dava pra ver ele rindo daquele jeito escroto que faz coçar o ódio na consciência (ou inconsciência) da gente. Mesmo amigos fazem isso; e ele era meu amigo. Mas amigos a gente perdoa; os outros: ou se dá uma porrada na cara, ou foda-se alguns dias depois (ou não se esquece).



            Ô dia ruim, ô dia sem jeito. Mas é só um dia; após outro e mais outro e amanhã tem mais um e uma hora acaba e pronto. Acabou.
            E eu e a ninfa não tivemos nada além de aulas naquelas todas tardes que correram. Acho que podia torná-la uma obra de arte de um jeito ou de outro. Que pena, ninfa, você perdeu…e eu nem a conhecia; que belo artista eu sou…
            Tinha um cara, também, que não parecia ter sido beneficiado pelo destino, mas dane-se também, a culpa lá é minha? Quem se importa? Que é ele? Foda-se! Sou artista e o 

dia lá fora é lindo! Danem-se os homens.
            Aquele sim era um pecado, há não ser pelos pés, mas foda-se também.
            O dia lá fora é lindo e é só um dia. Um só hein?!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

*Domingo da tarde

Eu vi um outdoor da janela da cozinha
enquanto enchia a garrafa d'água
no domingo quente da tarde.
Nele estava escrito: "Pós-Graduaçãn"

Pensei: "Não acredito! Que gente burra é essa?"
Mas ai percebi que mais um poste
se transpunha em minha vista
E li: "Pós-Graduação"

-O mundo inteiro é um lugar pequeno